Toda palavra é noite.
Perpetua a angústia do não encontro.
Há sempre perda no contato,
Mesmo que se some à pele o espanto.
Toda palavra é prisão e liberdade.
Intervalo entre som e silêncio.
Toda palavra é falta.
Suspiro entre sopro e chama.
Toda palavra é não.
Dentes demasiados de dor.
Toda palavra é vã e vão.
Ainda que belamente perfeita.
Ainda que de adjetivos – cilada, aparência.
Toda palavra é falácia.
Nada e maravilha.
Toda palavra é nunca.
O amor, por exemplo. Ou como Deus se pronuncia.
(Eis que nenhuma palavra é dia.
A não ser alguma que à esperança mentia.)
Toda palavra ornamenta uma lápide
De mistérios e magias.
Daí, a incompletude – sua infinita largueza.
Daí, a poesia implícita em cada uma:
Barro e cimento. Pedra-viva.
Toda palavra diz-se cedo.
O adeus, por exemplo. Ou como o morto se anuncia.
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