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Fundo branco
  • Foto do escritorTanussi Cardoso Poeta

DE FUMAÇA, A PALAVRA

Toda palavra é noite.

Perpetua a angústia do não encontro.

Há sempre perda no contato,

Mesmo que se some à pele o espanto.

Toda palavra é prisão e liberdade.

Intervalo entre som e silêncio.

Toda palavra é falta.

Suspiro entre sopro e chama.

Toda palavra é não.

Dentes demasiados de dor.

Toda palavra é vã e vão.

Ainda que belamente perfeita.

Ainda que de adjetivos – cilada, aparência.

Toda palavra é falácia.

Nada e maravilha.

Toda palavra é nunca.

O amor, por exemplo. Ou como Deus se pronuncia.

(Eis que nenhuma palavra é dia.

A não ser alguma que à esperança mentia.)

Toda palavra ornamenta uma lápide

De mistérios e magias.

Daí, a incompletude – sua infinita largueza.

Daí, a poesia implícita em cada uma:

Barro e cimento. Pedra-viva.

Toda palavra diz-se cedo.

O adeus, por exemplo. Ou como o morto se anuncia.

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